Uma Nova Geração Está Chegando – OS MASHUPS

25/04/2014 22:25

É incrível como a Internet trouxe outra relação de sujeito x informação, nas últimas duas décadas. Não foram somente as velocidades que se alteraram na busca das informações, no tratamento dos dados operacionais e no estilo do novo colaborador corporativo, estamos vivenciando na contemporaneidade a viceração pela produção contumaz e exacerbada de mensagens e posts vindos de todos os lugares, das redes sociais, dos apps de celulares, e até dos tradicionais meios de comunicação.

 

Estas possibilidades potencializam as relações sociais a ponto de não sabermos mais de quem é a idéia original, quem surgiu com alguma inovação e qual a sua participação na criatividade. Quem deu nomes aos novos símbolos, códigos e linguagens sociais que estão sendo utilizados nas redes sociais, nas escolas e universidades? Em seu texto “Sonho de uma noite de verão”, Shakespeare descreve essa protuberância intelectual dos sujeitos na produção de novos saberes urbanos:

 

... E enquanto o seu imaginar concebe formas desconhecidas, sua pena dá-lhes corpo e, ao ar inconsistente, dá local de morada e até um nome.”

 

Neste oceano de informações produzidas diariamente nas redes sociais, através de seus inúmeros nós, surge a figura do autor compartilhador, aquele que agrega valor ao que já foi escrito, exposto, divulgado, lido por milhares de outros nós (sujeitos). E nesta efervescência de novas contribuições, as informações tomam formas diferentes, matizes incríveis, sentidos novos, surgem códigos sociais, símbolos sociais e todos os dias, estamos perguntando aos nativos digitais, o que quer dizer e que sentido dão as imagens, sons, músicas, vídeos e palavras.

 

E eis então que surge uma nova seita, não religiosa, de adeptos a construção de um estilo configurado na literatura americana e logo espalhado pelo mundo de “The Mashup Ecosystem”. Mas o que são os mashups? O que faz um sujeito da geração mashup? Como ele recebe e produz conhecimento ou informação?

 

Na tradução literal americana para Mashup diz que toda a informação, lida e internalizada pelo sujeito, é trabalhada, modificada, rearranjada, com novas contribuições, outra visão sobre a informação, que é então publicada novamente na sua origem ou em outras mídias. Outro sujeito lê, também internaliza e cria novas informações, dando outro formato, outra aparência. O velho ditado que diz:  “aumenta, mas não inventa”. É isso mesmo, assim como as redes sociais, muito antes da Internet e dos computadores, os grupos de indivíduos trocavam informações, internalizavam, acrescentavam novos fatores, “recheios” e punham a divulgar para outros indivíduos, numa corrente interminável de efeitos imprescindíveis.

 

A geração X, e, mais especificamente, a Z, que nasceu após 2000, está tratando de inovar os conceitos de como as informações se reproduzem no meio circulante e elabora uma incrível dança de mestiçagens culturais, educacionais, e, por vezes, de tempos em tempos, uma idéia original, sensacional, incrivelmente inovadora, surge e se não tiver um nome público, famoso, logo cairá na malha das redes sociais perdendo a identidade de seu criador.

 

Steven Johnson, ao escrever “De onde vêm as boas ideias”, jamais imaginaria que essa profusão de novas ideias e informações que circulam na velocidade da luz, nas redes sociais, pudesse produzir tanta informação com autoria como agora. Steven ao falar de inovação atribuía a responsabilidade da palavra aos efeitos mágicos da inovação tecnológica, metodológica e até corporativa das ideias, entretanto, ao sabor dos ventos tempestivos, todos os sujeitos nas redes sociais começaram a produzir informações, numa profusão nunca vista em redes sociais estudadas anteriormente.

 

PRODUÇÃO DO ECOSSISTEMA MASHUPS E A EDUCAÇÃO 

 

Na educação tradicional, o professor rege uma orquestração de relações impostas pelo modelo educacional em que um sujeito é o centro das relações, e a ele é dada a responsabilidade pela produção da informação em sala de aula, e da avaliação da aprendizagem por esta informação trabalhada e estudada com os alunos.

 

Na nova educação em rede, o professor passa a ser um nó nesta rede, sendo ao mesmo tempo, professor e aluno, aprendente e ensinante. E todos os demais alunos, sobem a posição de ensinantes.

 

Evidentemente, que ao se produzir esse novo ecossistema, alimentado pelo potencial de cada nó na rede, gerando uma produção maciça de informação e questionamentos, surge a pergunta mais famosa no mundo inteiro a respeito do modelo: QUAL É O PAPEL DO NOVO PROFESSOR NA EDUCAÇÃO EM REDE?

 

Trata-se de uma pergunta cuja resposta é muito ampla, e provavelmente irá gerar muita discussão. No entanto, alguns itens dessa geração Mashups trouxeram algumas respostas que podem ser aplicadas perfeitamente ao novo construto das práticas pedagógicas docentes e para os novos colaboradores empresariais.

 

NOVO PROFESSOR x ECOSSISTEMA MASHUPS DE PRODUÇÃO DE INFORMAÇÕES

 

Independente da escola, universidade ou empresa, os indivíduos estão produzindo informações, e muitas dessas informações estão gerando conhecimentos nos sujeitos da rede social, porque estão encontrando sentido e subjetividades em suas experiências de vida. Paulo Freire, já havia alertado para a questão da produção de conhecimento fora dos muros da escola e que a Escola deveria tomar para si esse cuidado.

 

O professor não traz mais só o conhecimento disciplinar, os conteúdos programáticos, ou as informações das atividades a serem realizadas em sala de aula. Mas então, onde essas informações estão e quem está criando diariamente novas informações e com que rigor científico? Estão sendo aprovados pelos educadores, teóricos das áreas de conhecimentos e pelos geradores autorizados de livros técnicos? Esse é um cuidado que merece atenção das autoridades educacionais e empresariais. Estão produzindo muito livro de autoajuda que mais confunde do que esclarece.

 

Então, o professor não possui mais a informação como construto inovador, como responsabilidade unipresente e onipotente da figura daquele que detém a informação que será trabalhada em sala de aula ou na organização empresarial? Não, não possui mais essa função. A informação agora está disponível na rede mundial de informações, nos grandes bancos públicos de dados, nos livros acessíveis online, etc. E qual é então o papel do novo professor nesta nova educação em rede?

 

Ele detém o conhecimento de saber como trabalhar as milhares de informações que chegam nas caixas de email de cada sujeito aluno (nó na rede), ele sabe como relacionar tais informações, sabe cruzar as informações, dar forma, produzir conhecimentos e que essas construções devem fazer sentido aos alunos e que esse sentido seja considerado uma aprendizagem significativa, dependendo do que cada sujeito sabe anteriormente e como essa nova informação poderá ser internalizada.

 

O novo professor deve conhecer fortemente conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade, para poder relacionar as diferentes áreas envolvidas das informações. Deve saber relacionar os diferentes aspectos das questões, os espectros e as epistemologias de cada pensamento disciplinar.

 

Em outras palavras, a geração Mashup chega às escolas hoje com muitas perguntas e desejosos por respostas que façam sentido para elas. O novo professor, o professor que educa na rede e com a rede deve poder dizer “não sei” e colocar todos os alunos, inclusive ele, a estudar, pesquisar e trabalhar as questões de tal forma que todas aprendam.

 

O novo professor de educação em rede não precisa saber demasiadamente do conteúdo, nem de todas as tecnologias, mas é imprescindível que em sua formação, o professor tenha sólidos conhecimentos de metodologia, que saiba, junto com os alunos, onde procurar, pelas respostas às indagações diárias dos seus alunos, seja num vídeo, seja nos livros, na biblioteca, na internet, nas bibliotecas públicas online, e, até, nas redes sociais, principalmente no FACEBOOK, onde já existem bilhões de grupos de estudos, onde se podem encontrar muitas respostas. E que possa dizer aos seus alunos como aquelas questões e informações encontradas possam fazer sentido para os alunos em seu aprendizado diário, fazendo uma conexão com os conteúdos de sala de aula.

 

O QUE FAZ UM MASHUP

 

A nova geração Z conhece as tecnologias, convive com ela desde os primeiros anos de sua vida, aprende rapidamente onde cada informação está, e precisa muito deste novo professor de educação em rede, que possa lhe dar informações sobre o que encontrar, e se são informações importantes para sua formação, relevantes, recorrentes, pertinentes, responsáveis, e se podem ser, de forma interdisciplinar, agrupadas e participantes dos conteúdos que estão sendo vistos na escola.

 

 

Segundo alguns estudiosos como David E. (2009), são aplicações Web que combinam dados de múltiplas fontes e uma só ferramenta para criar um todo que é maior que a soma de suas partes.

 

Os Mashups combinam redes sociais, apps de celulares, páginas da internet como youtube, softwares e ambientes de aprendizagem, jogos digitais educacionais, softwares de comunicação de toda ordem, agregam rapidamente valores a todos os sujeitos (nós da rede) que possam contribuir para sua aprendizagem. Transcendem os muros da Escola, dos conteúdos programados, e estão muito além das divisões por séries. Os Mashups aprendem fora de ordem, estão vendo conteúdos de outras séries, ora muito a frente, ora muito atrás.

A função do professor é organizar essas informações com aquelas que possuem no conteúdo da disciplina para tornar atrativos todas as formas e fontes de informação e permitir que os mashups produzam, através de suas autorias compartilhadas, o saber coletivo.

 

A geração Z busca mais o sentido das coisas do que a fórmula que irá resolver a maior parte dos seus problemas no futuro. Os Mashups são sujeitos que são naturalmente mais preparados para o inesperado, são adaptativos e flexíveis, possuem mapas mentais oriundos de fotos, vídeos, imagens em geral. Possuem linguagem e pensamento lógico-matemático mais reduzido do que em relação às gerações anteriores. Segundo pesquisas de James Robert Flynn, são considerados mais inteligentes que suas gerações anteriores, entretanto, precisam do professor de educação em rede para que possam crescer e se desenvolver, neste emaranhado de informações produzidas diariamente nas tecnologias de informação e comunicação.

 

O QUE É SER UM MASHUP HOJE EM DIA

 

Mais do que pertencer a grupos e os jovens são essencialmente gregários, as tecnologias trouxeram as condições ideais de grandes agrupamentos de indivíduos. Todos se transformaram em nós numa rede de relações intermináveis, que transpõem a rua, a escola, a cidade e o país, em escala mundial.

 

Compreender como pensam, como processam informações e constroem conhecimentos é tarefa fundamental deste novo professor que queremos para o século XXI. Produzir condições metodológicas e tecnológicas na formação de novos professores é fundamental para essa nova educação de rede que surge em meio ao processo transitório entre a sociedade da informação para a sociedade do conhecimento. É fundamental que pesquisadores, em seus estudos de mestrado e doutorado, coloquem em suas pesquisas de campo, a possibilidade de capacitar professores e instituições de ensino nesta nova realidade de educação em rede.

 

Ser Mashup hoje em dia é estar afinado com as tecnologias, enturmado nos grupos de redes de relacionamentos, envolvidos com os movimentos sociais, prontos para participarem e se sentirem úteis às suas próprias causas, sejam elas quais forem. Possuem o poder de organizarem-se socialmente, não dependendo mais das mídias originalmente responsáveis pelos grandes aglomerados como TV e jornais.

 

Ser Mashup hoje em dia é trazer para a sala de aula muitas perguntas e espera pelas respostas. Ou a Escola dá essas respostas ou a Escola perderá o sentido para ele. Espera que o professor diga “não sei”, para que ele possa se sentir útil e também ensinar, numa mão de via dupla.

 

Ser Mashup hoje em dia é perceber que tudo está relacionado, e que muitas informações não estão fazendo sentido para ele porque falta a orientação, a observação, a pesquisa científica em sala de aula, o estudo dos fenômenos, a razão porque as fórmulas matemáticas existem e onde são aplicadas, as leis da física e da química, os estudos dos solos e dos mares, dos ventos e dos tsunamis, das histórias dos povos antigos e dos povos modernos, das políticas que adotam, das economias que criam, de como produzem, comercializam e acumulam riquezas. Mas um ensino interdisciplinar, que envolva as disciplinas de forma a contribuírem, umas com as outras, e não separadamente.

 

Ser Mashup hoje em dia é conhecer muitos tipos de música, mas não necessariamente ser eclético, geralmente gostam de um ou dois estilos, participam de redes com os mesmos gostos, e eles possuem muitos. Por serem gregários e participarem mais ativamente das redes sociais, precisam de orientação em relação ao respeito pelas diferenças, pelas etnias, pelas religiões, pelos tipos de governo, pelos espaço de cada um e pelo respeito ao outro.

 

Ser Mashup hoje em dia é não contentar-se com a resposta do professor, ele vai atrás, vai pesquisar em diferentes lugares, com diferentes pessoas. O professor deve tomar cuidado com as informações que dá em sala de aula, pois seus ensinamentos vão encontrar ressonância nas páginas da Internet e serão vistos com outros alunos, discutidos, produzindo reflexão, discussões e aprendizagens. E um Mashup traz as respostas certas caso você tenha cometido equívocos.

 

Nada melhor para um professor de educação em rede, contemporâneo e comprometido com a geração Mashup, do que entender, através de estudos interdisciplinares como a neuroeducação está ajudando a dar respostas, juntamente com a neurociência, como este aluno aprende, e a neuropsicologia contribuindo com informações vitais de como ele se comporta, quais são as suas emoções, seus afetos, como se importa e como produz subjetividades.

 

Para este professor de educação em rede, as responsabilidades aumentaram muito mais, porque exige dele não só o conhecimento da disciplina, mas a capacidade e a habilidade de lidar com esse novo aluno Mashup que chega todos os dias às instituições de ensino, tão ávido por aprender e tão esperançoso de que suas indagações encontrem respostas.

 

Ou ele aprende com a Escola ou aprende no ecossistema mashup da web. Mas a qualidade dessa aprendizagem poderá não ser a mais adequada. Para a Escola mudar é preciso que o professor mude e essa mudança vem de dentro de cada professor que percebeu a mudança, a nova educação em rede e o tipo de aluno que está chegando.